E nada
melhor do que a bruma para saudar o amanhecer deste novo dia… em Bruma!!!
A vida de
peregrino não é fácil, bem pelo menos assim fôra outrora, já que estar na rua
às 8h da manhã e a tirar fotos não é propriamente o mesmo que levantar ainda de
madrugada para cuidar da terra, como muitos ainda hoje o fazem, de qualquer
modo, comparando com o peregrino moderno que só vem no verão, a fazer etapas
curtas, comer em restaurantes e dormir em pensões, sempre faço a coisa mais
autentica um bocadinho ;)
Tempo de
dar uma última olhadela ao albergue e à sua envolvente também agradável com o
riozinho, o parque infantil e a secular igrejinha!
Faço-me ao
caminho mirando os campos e a névoa que paira sobre o riacho, sentindo os dedos
gelarem, talvez para me lembrar que ainda estámos no Inverno e que por aqui as
noites são mesmo frias, apesar do sol sorridente que tinha apanhado durante os
dias anteriores, nesta minha peregrinação! A esta hora estava ainda muito frio!
Nas bermas era bem visível a geada, o que em nada ajudava a aquecer este
peregrino, o que ajudava era ele acelerar o passo, isso sim, ajudava a aquecer
e muito!!!
Apesar da
ruralidade desta zona, reparo que nem toda a gente saúda à passagem do
peregrino, ao contrário do que já tenho experimentado enquanto montanheiro
noutras zonas também rurais! Talvez essa diferença se deva ao facto de que
essas zonas de montanha, normalmente se encontram em locais mais isolados do
que este que apesar de rural já está muito perto duma grande cidade como o é
Santiago!
Outra coisa
que também reparei foi que apesar de ter visto muitos corvos, nomeadamente
nesta manhã, o facto é que não me recordo de ver os correspondentes
espanta-pajaros (os nossos espantalhos, ou espanta-corvos, como muito
apropriadamente, no seu caso, dizem os ingleses).
Aproveito
uma mesa envolta numa forma de espigueiro, junto a um verdadeiro espigueiro (ou
horreo como por aqui se diz) para comer um pequeno naco de pão enquanto aprecio
as estranhas esculturas(?!) que observo do outro lado da estranha feitas em
metal com alguns elementos, digamos que rurais… não sei se ache kich ou
ridículo ou engraçado, mas pareceram-me originais ;)
Mais à
frente, aí sim uma paragem para um pequeno-almoço como deve ser… tostadas e
café-con-leche… eram para aí umas onze e um quarto da manhã e encontrava-me no
bar “A Rua”. Depois de ter passado mais uma igreja, fechada, aqui estava mais
um local para recompor o gôto e arrecadar o carimbo! Conclusão: o peregrino
moderno não deixa a esmola na igreja, deixa o contributo no comercio local para
gáudio dos prazeres da carne… algo soa errado aqui, ou talvez não ;)
“Porra Bar
A Rua”, não, não etsou a dizer que o bar é uma porra, é apenas o que está num
cartaz que vejo afixado e que pelo resto da descrição parece relacionar-se com
algo tipo torneio de futebol, sei lá… ao lado um “paisano” fala num galego
enrolado de que não capto nada! Tempo de prosseguir, pago (não sei bem, mas uns
2 a 3€) e sigo viagem, cantando eu tenho 2 amores :P
Pouco
depois altura de seguir por estrada rural, já sem o transito, ainda que pouco,
da anterior e passar por uma ponte onde parei um pouco em telefonemas pois
tinha de tratar dum assunto pendente e ligar pró banco que hoje é
segunda-feira.
Um pouco
mais à frente cruzo-me com um casal de ingleses no caminho... Atendendo a que foram
poucos os peregrinos que encontrei no caminho, o facto de ter encontrado estes
2 já me dá uma boa percentagem de peregrinos ingleses nas contas finais do
caminho inglês :D
Não estando
cansado, tenho contudo o aspecto de um verdadeiro peregrino de gorro e barba
comprida ;)
Hoje já não
havia os constrangimentos de re-abastecimento do dia anterior e por isso toca a
desforrar e mais à frente num outro bar, “Cruzeiro” (porque estava ao pé de um
cruzeiro, digo eu) voltei a encontrar os ingleses com que me havia cruzado
nesta manhã.
Altura pra
troca de algumas impressões sobre o caminho enquanto aguardávamos pelo serviço.
Paguei
pouco mais de 3€ por um sumo pêssego de 33cl e um “bocadilho” de queijo enorme,
que parti em 3 pedaços e ainda embrulhei 2 para levar e quando pedi guardanapos,
logo vieram com tudo já embrulhado em folha d aluminio ;)
Nessa
altura ao balcão, um outro cliente, desta feita um galego, perguntando-me de
onde vinha, metia conversa tentando falar em português ou galego. O homem
queria mesmo falar em português (não era em galego), contando como havia
trabalhado em Portugal durante muitos anos, donde regressara havia mais de
sete, de como se enamorara duma moça de Aveiro, onde tinha trabalhado como
chefe de pedreiros e de como aí descobrira a sardinha assada, de que ele tanto
gostou que da primeira vez comera umas 14… ou 17 :D
Já com os
pés de novo no caminho e a pouca distância do bar que acabara de deixar,
cruzo-me com uma senhora já com alguma idade que empurrava a sua carrela (que
para quem não sabe é um carrinho de mão) cheia de lenha, pois como ela dizia, havia
que aproveitar o bom tempo!!!
Mais à
frente é com alguma tristeza que passo por uma zona onde estão a cortar um
carvalhal, seria para serrar ou para libertar a zona para construir, não sei…
Mas
tristezas não pagam dívidas nem encurtam os caminhos, muito pelo contrário… por
isso, à que voltar ao reportório e toca a cantar novamente os dois amores, mas
com outra letra e… outra música que prá mesma já não havia pachorra ;) e também
convinha mudar de repertório com facilidade para não me cansar nem incomodar
demasiado os passarinhos… e o “wanderers & nomads” do Johny Clegg (Digging
for some words) sempre tinha mais a ver com o espírito do momento :)
A meio duma
subida numa recta prolongada, paro a escrever algumas destas notas, quando
passam por mim, novamente, os 2 ingleses queixando-se de ser tão longa a etapa!
Ficaram mais animados quando lhes disse que faltavam apenas 3 kms… e lá
seguiram no seu ritmo!
Estes últimos
quilómetros da etapa também não tinham grande história para contar, embora à entrada
de Sigueiro a sinalização fosse muito confusa, sendo que acabei por ter de perguntar
pelo hostal! Afinal estava quase à porta.
Os 16€ por
um quarto privativo (ainda que sem wc), não estavam nada mal! Por isso achei
que não compensava estar a ir dormir ao pavilhão gimnodesportivo (afinal já
tive a minha experiência e já), ainda por cima que a informação que trazia era
a de que este pavilhão era bastante mais frio que o de Betanzos, pelo que não
justificava o risco... entretanto chegam os ingleses e ajudo-os a fazer o
check-in no hostal… sim que isto de pôr ingleses e espanhóis a falar uns com os
outros tem que se lhe diga ;)
Hora para acomodar
e tomar banho. Antes da noite chegar, tempo ainda para fazer algumas compras para
aliviar a vontade de comer... e procurar por um local de tapas que o Zé Carlos
me indicara como ficando junto à igreja! Pensei que desta vez seria fácil, não
havia que enganar pois era junto à igreja… mas não aparece igreja nenhuma,
mesmo a miúda a quem perguntei não sabia responder!!! Estranho… esta coisa de
fazer o caminho todo e só encontrar igrejas fechadas e outras que se escondem para
eu não as encontrar ;)
Também não
estava para andar muito à procura, dei uma volta para conhecer o centrito. Tive
a oportunidade de verificar que o caminho naquela zona estava marcado sim, mas
duma maneira que só por acaso é que o encontrava, já que alguns dos azulejos que
tem as setas/vieiras que te indicam as direcções, estão colocados bastante a
cima do que seria de esperar, ao nível do 1º andar, isto porque são locais em
que o r/c não está com o acabamento concluído, algo que se vê muito em Espanha,
já que é comum não fazerem a fachada do r/c (parte comercial) ao mesmo tempo do
resto da fachada!!!
De regresso
ao hostal para uma noite para esquecer… a cama enterra-se a meio, a janela
deixa entrar todo o ruído da avenida principal que, apesar de não ser grande,
fica integrada numa estrada nacional e para cúmulo com esta alcatifa e ambiente
mofoso, alvitraram-se-me as alergias todas :(
Sem comentários:
Enviar um comentário