segunda-feira, 7 de março de 2011

4ª etapa (Bruma - Sigüeiro) - Peregrinando até Santiago de Compostela, pelo Camiño (dito) Inglês

4ª Etapa - de Bruma a Sigueiro (em 7 de Março de 2011)


E nada melhor do que a bruma para saudar o amanhecer deste novo dia… em Bruma!!!

A vida de peregrino não é fácil, bem pelo menos assim fôra outrora, já que estar na rua às 8h da manhã e a tirar fotos não é propriamente o mesmo que levantar ainda de madrugada para cuidar da terra, como muitos ainda hoje o fazem, de qualquer modo, comparando com o peregrino moderno que só vem no verão, a fazer etapas curtas, comer em restaurantes e dormir em pensões, sempre faço a coisa mais autentica um bocadinho ;)

Tempo de dar uma última olhadela ao albergue e à sua envolvente também agradável com o riozinho, o parque infantil e a secular igrejinha!

Faço-me ao caminho mirando os campos e a névoa que paira sobre o riacho, sentindo os dedos gelarem, talvez para me lembrar que ainda estámos no Inverno e que por aqui as noites são mesmo frias, apesar do sol sorridente que tinha apanhado durante os dias anteriores, nesta minha peregrinação! A esta hora estava ainda muito frio! Nas bermas era bem visível a geada, o que em nada ajudava a aquecer este peregrino, o que ajudava era ele acelerar o passo, isso sim, ajudava a aquecer e muito!!!

Apesar da ruralidade desta zona, reparo que nem toda a gente saúda à passagem do peregrino, ao contrário do que já tenho experimentado enquanto montanheiro noutras zonas também rurais! Talvez essa diferença se deva ao facto de que essas zonas de montanha, normalmente se encontram em locais mais isolados do que este que apesar de rural já está muito perto duma grande cidade como o é Santiago!

Outra coisa que também reparei foi que apesar de ter visto muitos corvos, nomeadamente nesta manhã, o facto é que não me recordo de ver os correspondentes espanta-pajaros (os nossos espantalhos, ou espanta-corvos, como muito apropriadamente, no seu caso, dizem os ingleses).

Aproveito uma mesa envolta numa forma de espigueiro, junto a um verdadeiro espigueiro (ou horreo como por aqui se diz) para comer um pequeno naco de pão enquanto aprecio as estranhas esculturas(?!) que observo do outro lado da estranha feitas em metal com alguns elementos, digamos que rurais… não sei se ache kich ou ridículo ou engraçado, mas pareceram-me originais ;)

Mais à frente, aí sim uma paragem para um pequeno-almoço como deve ser… tostadas e café-con-leche… eram para aí umas onze e um quarto da manhã e encontrava-me no bar “A Rua”. Depois de ter passado mais uma igreja, fechada, aqui estava mais um local para recompor o gôto e arrecadar o carimbo! Conclusão: o peregrino moderno não deixa a esmola na igreja, deixa o contributo no comercio local para gáudio dos prazeres da carne… algo soa errado aqui, ou talvez não ;)

“Porra Bar A Rua”, não, não etsou a dizer que o bar é uma porra, é apenas o que está num cartaz que vejo afixado e que pelo resto da descrição parece relacionar-se com algo tipo torneio de futebol, sei lá… ao lado um “paisano” fala num galego enrolado de que não capto nada! Tempo de prosseguir, pago (não sei bem, mas uns 2 a 3€) e sigo viagem, cantando eu tenho 2 amores :P

Pouco depois altura de seguir por estrada rural, já sem o transito, ainda que pouco, da anterior e passar por uma ponte onde parei um pouco em telefonemas pois tinha de tratar dum assunto pendente e ligar pró banco que hoje é segunda-feira.

Um pouco mais à frente cruzo-me com um casal de ingleses no caminho... Atendendo a que foram poucos os peregrinos que encontrei no caminho, o facto de ter encontrado estes 2 já me dá uma boa percentagem de peregrinos ingleses nas contas finais do caminho inglês :D

Não estando cansado, tenho contudo o aspecto de um verdadeiro peregrino de gorro e barba comprida ;)

Hoje já não havia os constrangimentos de re-abastecimento do dia anterior e por isso toca a desforrar e mais à frente num outro bar, “Cruzeiro” (porque estava ao pé de um cruzeiro, digo eu) voltei a encontrar os ingleses com que me havia cruzado nesta manhã.

Altura pra troca de algumas impressões sobre o caminho enquanto aguardávamos pelo serviço.
Paguei pouco mais de 3€ por um sumo pêssego de 33cl e um “bocadilho” de queijo enorme, que parti em 3 pedaços e ainda embrulhei 2 para levar e quando pedi guardanapos, logo vieram com tudo já embrulhado em folha d aluminio ;)
Nessa altura ao balcão, um outro cliente, desta feita um galego, perguntando-me de onde vinha, metia conversa tentando falar em português ou galego. O homem queria mesmo falar em português (não era em galego), contando como havia trabalhado em Portugal durante muitos anos, donde regressara havia mais de sete, de como se enamorara duma moça de Aveiro, onde tinha trabalhado como chefe de pedreiros e de como aí descobrira a sardinha assada, de que ele tanto gostou que da primeira vez comera umas 14… ou 17 :D

Já com os pés de novo no caminho e a pouca distância do bar que acabara de deixar, cruzo-me com uma senhora já com alguma idade que empurrava a sua carrela (que para quem não sabe é um carrinho de mão) cheia de lenha, pois como ela dizia, havia que aproveitar o bom tempo!!!

Mais à frente é com alguma tristeza que passo por uma zona onde estão a cortar um carvalhal, seria para serrar ou para libertar a zona para construir, não sei…

Mas tristezas não pagam dívidas nem encurtam os caminhos, muito pelo contrário… por isso, à que voltar ao reportório e toca a cantar novamente os dois amores, mas com outra letra e… outra música que prá mesma já não havia pachorra ;) e também convinha mudar de repertório com facilidade para não me cansar nem incomodar demasiado os passarinhos… e o “wanderers & nomads” do Johny Clegg (Digging for some words) sempre tinha mais a ver com o espírito do momento :)

A meio duma subida numa recta prolongada, paro a escrever algumas destas notas, quando passam por mim, novamente, os 2 ingleses queixando-se de ser tão longa a etapa! Ficaram mais animados quando lhes disse que faltavam apenas 3 kms… e lá seguiram no seu ritmo!

Estes últimos quilómetros da etapa também não tinham grande história para contar, embora à entrada de Sigueiro a sinalização fosse muito confusa, sendo que acabei por ter de perguntar pelo hostal! Afinal estava quase à porta.

Os 16€ por um quarto privativo (ainda que sem wc), não estavam nada mal! Por isso achei que não compensava estar a ir dormir ao pavilhão gimnodesportivo (afinal já tive a minha experiência e já), ainda por cima que a informação que trazia era a de que este pavilhão era bastante mais frio que o de Betanzos, pelo que não justificava o risco... entretanto chegam os ingleses e ajudo-os a fazer o check-in no hostal… sim que isto de pôr ingleses e espanhóis a falar uns com os outros tem que se lhe diga ;)

Hora para acomodar e tomar banho. Antes da noite chegar, tempo ainda para fazer algumas compras para aliviar a vontade de comer... e procurar por um local de tapas que o Zé Carlos me indicara como ficando junto à igreja! Pensei que desta vez seria fácil, não havia que enganar pois era junto à igreja… mas não aparece igreja nenhuma, mesmo a miúda a quem perguntei não sabia responder!!! Estranho… esta coisa de fazer o caminho todo e só encontrar igrejas fechadas e outras que se escondem para eu não as encontrar ;)

Também não estava para andar muito à procura, dei uma volta para conhecer o centrito. Tive a oportunidade de verificar que o caminho naquela zona estava marcado sim, mas duma maneira que só por acaso é que o encontrava, já que alguns dos azulejos que tem as setas/vieiras que te indicam as direcções, estão colocados bastante a cima do que seria de esperar, ao nível do 1º andar, isto porque são locais em que o r/c não está com o acabamento concluído, algo que se vê muito em Espanha, já que é comum não fazerem a fachada do r/c (parte comercial) ao mesmo tempo do resto da fachada!!!

De regresso ao hostal para uma noite para esquecer… a cama enterra-se a meio, a janela deixa entrar todo o ruído da avenida principal que, apesar de não ser grande, fica integrada numa estrada nacional e para cúmulo com esta alcatifa e ambiente mofoso, alvitraram-se-me as alergias todas :(

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