sábado, 5 de março de 2011

2ª etapa (Neda - Betanzos) - Peregrinando até Santiago de Compostela, pelo Camiño (dito) Inglês

2ª Etapa - de Neda a Betanzos (em 5 de Março de 2011)

As minhas previsões (ainda registadas nas notas do dia anterior), infelizmente, acertaram em cheio… a verdade é que os senhores de Madrid chegaram bem tarde para quem é suposto andar a peregrinar!

Acordo às duas da manhã, ao som duns “manolos” a falar alto e a rir-se, não sei de que “bromas y xistes”, já que estava meio a dormir e não estava a achar piada nenhuma nem a prestar atenção ao que estavam a dizer, mas concerteza não seriam merecedoras do interesse de alguém que estava a descansar para ir percorrer mais uns 30 kms no dia seguinte! A estratégia passou por ignorar e tentar continuar a dormir, enquanto uns se riam e outros pediam silêncio… é claro que quando me levantei me apeteceu ir à cozinha pegar em 2 testos e praticar os meus fracos dotes musicais ao ritmo do malhão, mas isto de ser português e tolerante, tem os seus custos e, por isso, lá me levantei sereno e pronto para o Camiño!


Quem também saiu cedo foram outros 2 espanhóis que haviam chegado no final do dia anterior, mas que presumi como fazendo parte do grupo, por isso estranhei quando os vi a sair ainda antes de mim enquanto os restantes se começavam a levantar, com muitas queixas, não sei se da caminhada do dia anterior se da bebedeira… estes 2 também não tinham achado piada ao comportamento dos seus conterrâneos e quando lhes perguntara se não estavam juntos, lá estava o gracejo: não! nós somos mais sossegados!!! Mais sossegados e com mais sorte, já que os deixaram ocupar o quarto destinado aos “minusválidos” e por isso sempre dormiram melhor que o pobre português que estava na mesma camarata do grupo (conforme me confessaram depois em Bruma).

Deixando para traz o albergue, onde um grupo de espanhóis fazia pela vida para se despertar, mas que me pareceu não iria muito longe naquele dia, segui viagem pela beira da ria por caminhos e passadiços, até entrar verdadeiramente em Neda, na vila, um passeio matinal com algum frio, sim que isto de manhã ainda demora a aquecer, principalmente as mãos! Mas já se vê gente a passear e de fronte para a igrexa local, a tirar a foto da praxe, lá passa um senhor que cumprimenta e informa que depois deverei voltar atrás para apanhar novamente o Camiño. Agradeci amavelmente mas disse-lhe que queria contornar a vila mais perto da ria. Disse que havia sim uma ruela, mas pequena. Lá contornei, cruzei-me com um cão de bom porte que guardava a entrada para umas casas e, mais à frente, vi terminar a vila e começar a ria, mas sem qualquer ruela. Voltei uns metros atrás para constatar que o cão não estava na entrada duma casa mas sim da tal passagem para um caminho alternativo que começava entre-paredes das casas e continuava por detrás dos quintais das outras casas da vila, muito agradável e muito simpático... e o pastor alemão já não estava a tapar a entrada da viela, pelo que não foi preciso pedir-lhe com licença!!!


Saindo de Neda ainda não estamos fora da zona industrial, já que Fene ainda fica junto aos estaleiros navais da Navantia (vê-se o pórtico onde já constou o nome da Astano), mas o Camiño já começa a apresentar outras características, mais “off-road”! A vontade de continuar é bastante e até a ideia de fazer isto para sempre nos sai ao caminho, por entre pensamentos de quem caminha solitário, não fosse o caminhar por si só algo que temos de empreender a solo, mesmo que acompanhados!!! A subida que nos demanda o esforço… a musica que nos emociona, seja pelo conteúdo seja pelo momento… os fluxos cerebrais que se conjugam numa emoção, pelo passado, ou pelo ultrapassado...

Depois de Fene (vila onde existe um Museu do Humor ;) a mudança de cenário é evidente e o sentimento de envolvência rural já está mais presente. Esta ruralidade alivia-nos a crueza dos quilómetros em falta e alenta-nos o passo!


Pouco depois, num local marcado no Google Earth como sendo Romariz, é necessário ter muito cuidado pois já estamos por carreiros e deparamo-nos com uma estrada, pequena, mas com muito fraca visibilidade e que teremos de cruzar confiando no ouvido. Continuando pelo carreiro/estradão, algumas dezenas de metros à frente, passo por um grupo de ciclistas, ou melhor eles é que se cruzam comigo pois vão mais depressa (quase que havia atropelamento involuntário, quando ao chegarem perto o primeiro diz “derecha”, sinal de que me ia passar pela direita, e eu hesitante por pouco não me encostei à “derecha” ;). Isto de irem mais rápido os ciclistas que os caminheiros, se é a norma em plano e descida, nem sempre é assim na subida, já que se ali atrás, no plano, passaram depressa, aqui nesta subida mais acentuada, os da frente não vão mais rápido e este aqui atrás que tem a roda mais “pesada” quase que me deixa alcançá-lo, fosse a subida um pouco mais longa!!!

Em seguida voltei a cruzar algumas estradas e passar uma vez mais pela AP-9, regressando pouco depois à envolvência rural (aldeia de Val?!), por aqui encontro uma casa gira, gira no sentido de que era agradável de se ver, acho que vou tirar o modelo para quando fizer uma casa de campo :-) campo sim que esta zona já tem uns prados… e um cavalo a pastar, o que dispõe sempre bem! Dispôs ainda melhor, um pouco à frente, avistar uma ponte de madeira no limite de um pequeno prado do lado esquerdo do caminho que parece dizer “anda aqui dar uma espreitadela”!!! Como estava a começar a sentir o dedão do pé a chatear, sendo que ainda só ia na manhã do 2º dia de caminhada, a situação não me estava a agradar mesmo nada e por isso era melhor ver o que se passava lá nos confins internos da bota esquerda!


O local para esta paragem não podia ser melhor, com as duas pequenas pontes e os dois murmurantes riachos estava num ambiente muito relaxante, que podia ainda ser melhor não fosse o ruído que comprovava que não estaria muito longe duma estrada movimentada! Feita a primeira vistoria ao pé não encontrei nada de especial, mas a sensibilidade do dedão ao tocar a unha não me deixava nada sossegado, é que podia estar na eminência duma unha encravada, o que seria motivo suficiente para dizer uns quantos palavrões que não vale a pena estar aqui a registar! Assim e a contar com essa possibilidade, lá decidi tratar a unha da melhor maneira que podia e sabia... e tirar uma foto, já que se o meu diagnostico estivesse certo, ficaria com um registo visual da origem do problema :D

Aproveitei a pausa, prolongada com estes cuidados, para descansar mais um pouco e merendar algo do que levava comigo, o que se reduzia a um resto de queijo brie que comprara no dia anterior! Bem, isto dito assim até pode parecer que o peregrino moderno se trata bem e que em vez de pão e água anda a queijo e refrigerantes, mas a verdade é que, para além de eu não andar com refrigerantes, o brie do Lidl que já costuma ser barato, ontem custara só 1€, o que faz do brie uma das coisa mais baratas que se pode comprar… e lá se vai todo o “elan”!!!

É meio-dia na Galiza e como apesar do local ser muito agradável, está um bocadinho de frio, há que voltar a cruzar o campo que nos separa do carreiro e meter pés ao caminho! Entretanto, num dos meus momentos da mais pura genialidade, qual filósofo da antiguidade apresentado a sua doutrina empírica, descubro que a mochila só pesa… à tarde!!! Por esta altura estamos já perto de reencontrar a ria, ali para os lados de San Martiño do Porto, cuja “igrexa” respectiva não está bem no caminho, sendo que para a encontrar, ao chegar à estrada principal, é necessário fazer um desvio de cerca de 150m (para a direita e ao longo dessa estrada com que nos deparamos). Como não é muito desviado e no nosso Porto o São Martinho anda mais por Penafiel, lá fiz o desvio e aproveitei para o ver neste porto.


Deitei uma mirada à igreja, a qual estava fechada (ou seja, menos um carimbo na credencial) e voltei ao Camiño, para me cruzar com umas peregrinas, diria eu que na casa dos 50 anos. Depois de trocar-mos cumprimentos e registos (de onde vínhamos, para onde íamos), lá segui pois nem elas queriam acelerar o seu passo, nem eu queria abrandar o meu e a etapa ainda estava curta!

Da Igreja de São Martinho, é sempre a descer até à praia de Pontedeume, aí então, deu-me vontade de passear na praia e a praia deu-me uma vieira. Imagine-se a praia quase vazia, um casal de namorados e meia dúzia de passeantes a fazer o seu exercício matinal, todos com trajes perfeitamente normais e eis que entra aquele gajo de mochila às costas, botas, gorro casaco e bastões e vai percorrendo a praia no seu passo cadenciado… é obvio que atrai as atenções e o par de namorados até acelera um pouco o passo para mirar o rosto daquele estranho… mas não é nada que nos perturbe! Por outro lado, a praia é muito agradável e vêem-se algumas vieiras na areia e aquela maiorzita, ali a olhar para nós, vai connosco até Santiago e até põe o peregrino a fazer um trocadilho em galego: Pontedeume unha vieira!!!


Saindo da praia voltamos à estrada para atravessar a velha ponte sobre o Eume, donde podemos apreciar melhor a vista da ponte azul (ferroviária) e da cidade que nos aguarda, ambos enquadrados pelo rio/ria pintalgado por um ou outro barquito.


O centro histórico de Pontedeume, é também muito agradável, com a sua Torre dos Andrade e ruas acolhedoras. Junto à torre o mercado e montes de gente e vendedores de rua… até que se avista a Casa do Concello, aberta ao Sábado o que, não deixando de ser surpreendente, é muito bom pois significa: mais um selo institucional :D


Selo posto, barriga a dar horas, desce-se um pouco a rua e entra-se numa padaria onde uma cliente conversa em galego com a senhora que nos atende, curiosas por saber, do peregrino, donde veio e mais desejosa, a cliente, por dar a saber da simpatia que nutria por Portugal (e já agora, porque não, também pelo Cristiano Ronaldo). Cliente que por entre cumprimentos de um bom camiño para o peregrino, lá ficou com a promessa deste de, em seu nome, dar um abraço ao santo.

Cá fora, deambulei à procura de um banco, onde me sentei, ali em frente da entrada da ponte, a comer umas coisitas que acabara de comprar, depois uma pausa na frugal refeição e dirijo-me para o centro da vila para fazer o reconhecimento de alguns dos pontos turísticos. Ao passar novamente pela praça da Casa do Concelho, reparo num grupo folclórico a preparar-se para umas “gaitadas” aproveito a pausa para lhes pedir uma foto de grupo… e outra comigo no grupo ;)


Depois de mais uma pausa para a segunda parte do frugal almoço ainda no centro da vila, começa-se a pensar em sair sem grandes demoras pois já por aí anda uma certa ansiedade pelo que se segue... não que a parte que vinha a seguir merecesse grande cuidado, não… ou pelo menos não, se seguisse pelo Camiño normal! A questão é que se a gente não inventa já nem se sente bem… pelo menos comigo costuma ser assim… e então quando as coisas já são planeadas para quebrar as rotinas, aí é que não há nada a fazer, é mesmo para quebrar!!!

O plano era visitar a Igrexa Românica de San Miguel de Breamo, uma pequena igreja de arquitectura medieval, mas com muito “boa pinta” e ainda por cima no topo de um monte (ora, palavra que disseste). É claro que ir pela estrada a fazer grandes curvas como faz uma pessoa normal, não estava nesses planos e muito menos depois de ter andado a pesquisar pelo Google Earth as imediações e ter descortinado algo que se parecia com um trilhozinho ali pelo meio da vegetação!

Para não dar uma de gajo e meter-me por caminhos sem perguntar direcções, lá perguntei, por descargo de consciência, qual seria o caminho mais directo para chegar ao sítio. Resposta: há uma estrada que vai lá dar e que sim, seria o caminho mais directo. Hum! Resposta errada, não fazia parte das respostas que o meu cérebro pudesse processar como aceitável! Por isso, toca de seguir a estrada até ao ponto em que havia marcado no GPS, seguir por uma estrada local até virar à esquerda numa estrada sem saída, de acesso a umas moradias e onde deveria encontrar um estradão… ou então voltar para trás e deixar de me armar em esperto!


Chegado à última vivenda, a qual tinha umas vistas espectaculares sobre a ria, não foi difícil perceber que, pelo menos, a coisa não terminava ali! Faltava era saber se não me iria meter na mata e andar aos esses até ir dar, a um ponto qualquer, a 200m do local de partida… algo que deve constar sempre do nosso cardápio de possibilidades quando nos metemos por novos, ainda que velhos, trilhos.

Logo que comecei a percorrer o estradão, reparei que, no meio deste, existia um caminho empedrado que tinha todo o aspecto de já ali estar há muito tempo, como não havia indícios de que alguém pudesse querer pavimentar tal local apenas por desporto, lá me convenci de que só podia estar no trilho certo e que aquela subida toda que cada vez me custava mais só ia acabar no objectivo San Miguel de Breamo! Bem, a verdade é que a vantagem de se andar com GPS é que as dúvidas são menores e temos sempre aquele companheiro electrónico a dizer-nos “vês! Estás a ir na direcção certa”!!!


Bem, não adianta esconder a excitação que se sente, principalmente depois duma valente suadela) ao ver aparecer aquela clareira e a placa a dizer que a meta estava mesmo ali ao alcance da vista!!! Olhar para trás e pensar, este já cá canta :D e depois pensar na frase “dando novos mundos ao mundo” e substitui-la por “dando velhos caminhos ao Camiño” ;)

A verdade é que não sei se este trilho faria, ou não, parte dum antigo tramo do Camiño, utilizado por todos aqueles que na sua peregrinação fizessem este desvio que parece óbvio, dada a beleza da pequena Igrexa e a sua localização… tudo leva a crer que assim seja! O que não há dúvidas mesmo, é que é um trajecto mais directo (o que indicia que também seja mais puxadito ;) e acima de tudo, mais autêntico do que seguir uma estrada de alcatrão!!!

Ora bem, fazer isto tudo sem no final levar uma foto nossa no local, também não está bem, por isso, depois de dar a voltinha à Igrexa e ter constatado que também não era aqui que ia entrar num local de culto, lá comecei a pensar num enquadramento que me permitisse ficar bem na foto! É claro que no local onde eu queria, não havia nada onde apoiar a câmara! Ainda tentei num pequeno pilarete mas a única coisa que apanhei foi um bom pedaço de céu, quando a câmara caiu!!!


Andava eu nestes arranjos, quando vejo chegar ao local um citröen vermelho… num local assim deserto, mesmo num sábado à tarde, fica sempre a pergunta do que faria aquele carro ali! Vê-se sair de lá de dentro 2 fulanos, ambos adultos (mas pelas idades talvez pai e filho) e com eles um cachorro, pelo que a presumida resposta à pergunta, que não foi colocada a quem de direito, é que estariam a passear o cão! O que me interessava mesmo naquela altura era uma alma para tirar o raio da foto… e para isso, bastou pedir!!! O raio da foto é que teimava em não sair direito e acabei por me resignar às fotos que o senhor amavelmente tentara enquadrar… era nestas alturas que perguntava porque é que não tinha trazido uma máquina decente, mas era dúvida que não pairava durante muito tempo, assim que sentia o peso da mochila nas costas aquilo dissipava-se logo, logo ;-)


A descida do monte é feita em direcção a Santiago, infelizmente as vistas abertas de onde se pode ver a paisagem da ria, não são muitas (eucaliptos a mais), mas ainda assim existe um local com um prado de tamanho razoável que permite ter uma belíssima perspectiva da ria até A Coruña, conseguindo-se ver mesmo a Torre de Hércules!


Toda esta parte continua a ser feita fora do trilho dito oficial, ou seja sem marcas de vieiras ou setas amarelas! Mas aproxima-se uma vila e é tempo de descansar um pouco e repor mantimentos. Em Perbes (pelo menos era esse o nome da estação de comboio que lá estava, embora estivesse marcado no mapa como lugar de Vilanova e Igrexa de S. Joam) já num local com várias casas e uma daquelas típicas mercearias/café onde se pode comprar algumas coisas também típicas como madalenas e iogurtes líquidos de litro, “típicas” de Espanha ;-)

Aqui neste cafe-bar com mesas e cadeiras daquelas tipo fórmica, tão comuns também no nosso Portugal há uns anos atrás e ainda um pouco por aí espalhadas, encontra-se também o não menos típico “capeamento” de cascas de amendoim, que vim a comprovar mais tarde que não é caso isolado, pelo menos neste canto do reino ;-) Pelo vistos aqui é comum deitar-se as cascas de amendoim para o chão e parece não incomodar ninguém! Pela hora, ausência de clientes e quantidade de cascas no chão junto do balcão, fiquei na dúvida se seriam do dia anterior ou se esta malta começa cedo a tomar umas bejekas acompanhadas deste “marisco dos pobres” ou se o local teria sido concorrido à hora do almoço e a senhora estivesse à espera duma pausa, ainda mais descontraída para não deixar acumular com a leva nocturna que com certeza traria mais elementos crocantes ao pavimento!!!

Outra coisa característica deste bar e que também não nos deixa saudades é a TV ligada a dar… telenovela, isso sim em castelhano, para não pensarmos que estamos em Portugal!!! Com a TV em altos berros a gente pensa cá com os nossos botões... serão surdos?... Bem pelo menos para fazer contas e pôr carimbo, não houve problemas de audição, assim que toca a caminhar.

Bem, neste ponto já os pontos no GPS estão referenciados como Miño1,2,3… o que quer dizer que estará para breve o fim do desvio em relação ao trilho comum e que voltaremos a ver água da ria não tarda nada. Neste caso ria de Betanzos!!!


Entrando em Miño encontra-se uma daquelas casas curiosas feitas com partes dum navio num terreno junto dum braço de rio e logo depois a estrada segue em recta junto ao areal e ao respectivo passeio pedonal arborizado por onde se avista uma ou outra alma em busca de um pouco de exercício.

Miño é a última localidade onde existe um albergue de peregrinos, já que o próximo só em Bruma a cerca de… 40kms!


Bem a ideia é ficar a dormir fora de hotéis e pensões, por isso surge a dúvida, ficar aqui, terminando esta etapa com apenas 26 kms e amanhã fazer uma etapa de 38kms, ainda por cima dizem que a próxima etapa é a mais desgastante em termos de desníveis, ou então tentar alojamento em Betanzos, que segundo o guia que arranjei dista 8 kms de Miño, o que dado o cansaço acumulado significará cerca de mais 2-3 horas.


Sentado no muro olhando a Ria de Betanzos, decido telefonar para a “Proteccíon Civil” de Betanzos que segundo a informação dos manolos do albergue de Neda estava receptiva a dar alojamento no pavilhão gimnodesportivo local… falei com alguém que se mostrou totalmente receptivo a que seguisse para lá, bastaria ligar para aquele número assim que lá chegasse que ele abriria o pavilhão. Bem tudo indica que irei passar a noite de sábado de Carnaval num pavilhão gimnodesportivo em Betanzos :-)


Cinco da tarde, num miradouro colorido sobre a estação de comboio de Miño, contemplo a ria e decido fazer uma inspecção ao pé direito que já há uns quilómetros me vinha a incomodar com uma pequena picada no calcanhar :-S Não se vê nada mas por via das dúvidas toca a hidratar o pé já que foi para isso que vim carregado com o creme!!!


Saindo de Miño junto ao rio Lambre até à Ponte do porco onde, ali ao lado, existe uma estátua do dito com a cruz de Andrade em cima… bem não está na altura para curiosidades, estamos em Março e não deverá haver mais do que 2 horas de dia pelo que já deverei chegar a Betanzos com o lusco-fusco senão mesmo com a noite! Atravessando a ponte seguimos à esquerda, para sul, subindo um pouco até alcançar um parque infantil (que me traz algumas recordações ;-) numa zona calma que por sinal cobre literalmente um tramo da auto-estrada...


Os quilómetros vão passando, menos 4 desde Miño, no entanto o novo trilho introduzido no GPS aquando do parque infantil, regista ainda mais de 8 até ao destino… estranho, pensei cá com os meus botões: “deve ser problema do trilho, deve estar a terminar depois de Betanzos”… a noite vai caindo, passa das 7 da tarde e o pé vai “picando” cada vez mais por isso sigo mais lento e já não dá para fazer os 4km/h que desejaria… por volta das 20h já vai escurecendo bem… Praticamente 8kms já decorridos desde Miño e nada de luzes de Betanzos, é uma cidadezinha, não devia estar tão “escondida”! Consulto o GPS, custa-me a aceitar mas o certo é que a informação está mesmo errada e não vão ser 8kms entre Miño e Betanzos, apetece-me praguejar… praguejo mesmo… bolas que lá se foi o plano de não terminar muito tarde… bem com um jeitinho quando chegar a Betanzos estão todos a festejar o Carnaval :-D


De Miño a Betanzos, são 12kms (e não 8kms, raio de medidores, foram por alguma estrada directa em vez de seguirem o trajecto do peregrino???), ou seja etapa do 2º dia de Neda a Betanzos ficou-me em 38kms e uma bolhinha no pé, bem por baixo do calcanhar, bonito, bolhinha para me fazer companhia durante mais 3 dias, bonito mesmo!!!

Cerca das 21h às portas da cidade velha, sim, cansado mesmo… recuperar o fôlego e ligar para a “Proteccíon Civil”, para descobrir que ainda não está! Há que andar mais um pouco até ao pavilhão que pelas indicações deve ficar do outro lado da vila!


Diabos, para hoje já chegava!!! Depois de perguntar umas 2 ou 3 vezes onde ficava o pavilhão, a última na esquadra local onde ainda tive de esperar que o agente de serviço resolvesse um problema com uns locais, antes de me atender para informar que era sempre em frente, lá encontrei o voluntário que já lá estava à minha espera e abriu a porta das minhas instalações privativas :-D ou quase pois ainda ficaria por lá uma malta que estaria a jogar qualquer coisa que não me recordo bem o que era!

Fez a visita guiada aos aposentos, o meu quarto, autentica “suite real” já que como era o ginásio do boxe e taekwondo tinha direito a um piso mais confortável do que se ficasse no pavilhão principal onde o chão é durinho, por outro lado, os dias tem sido agradáveis, solarengos sem serem quentes em demasia, mas as noites ainda são bem “frescas” pelo que uma sala mais pequena nunca se torna tão fria ;-)

Aqui algumas coisas não falham e o voluntário além de vir prevenido com a chave do pavilhão, vinha já preparado com o inevitável carimbo que comprovará que eu sou mesmo cumpridor!!!

Fiquei com as chaves do pavilhão, não fosse apetecer-me ir “correr” o Carnaval ;-) e depois quisesse regressar. Fiquei com a indicação de onde devia deixar as chaves no dia seguinte quando abalasse, despedimo-nos e lá fiquei eu a duchar-me (num balneário só para mim… escusado será dizer que por isso temos banho quente em sala fria ;-) a instalar-me e à procura de tomadas noutras salas e arrecadações onde pudesse carregar baterias, telemóveis, mp3 e GPS… tanta tecnologia que o peregrino traz com ele!!!

Bem, já vi que a estadia nas instalações é gratuita, agora só falta dar uns murros nos sacos de pancada que é para não perder a oportunidade de desfrutar deste equipamento todo e toca a recolher ao saco-cama :-)

1 comentário:

Savage disse...

Boas
isto de se fazer caminhos culturais está a dar que se falar
Será este o ritmo aconselhável?!.........